Um Padre 3D(magazinelgentel) por
Elemir Polese
Em março de 1983, as forças do santa-cruzense Jeferson Antônio da Silva mostraram-se escassas diante da quantidade de mochilas e malas. Dentro delas, uma escova dental, um kit de lápis, caneta, borracha e apontador, um travesseiro, lençóis e cobertores, duas calças jeans, algumas camisetas, um par de sapatos e outro de tênis, havaianas, entre uma série de outras coisas. Levou ainda, por recomendação de sua mãe, um terço e a Bíblia. O terço serviria para proteção e o Livro, para estudos no futuro.
Desde aquele dia, a Rua Pita
Pinheiro, do Bairro Figueira, onde
morava com seus pais e mais um casal de irmãos, deixou de ser o lugar para onde voltava sempre ao meio dia da escola. A escola de Jeferson, então com 11 anos, passou a ser bem mais distante: o Seminário Sagrado Coração de Jesus, de Arroio do Meio.
Cerca de cem quilômetros de Santa Cruz do Sul. Filho de pai sapateiro, Leoniz Santo, e mãe, Angelina Bavaresco da Silva, dona de casa –agora falecida –, o menino tornou-se protagonista de sua vida e de suas escolhas. Escolheu ser padre, mesmo
sabendo que para vestir a batina
o caminho seria árduo, longo e cheio de renúncias. A começar pela vida regrada no sistema de internato. A sineta toca às seis da manhã e indica que seria hora de despertar. Nos 15 minutos seguintes, já devia estar na capela junto aos demais. O café
da manhã, bem diferente do preparado pela mãe, é pão, schmier e uma xícara de café com leite. Logo depois, a sala de aula. Suas notas eram sempre satisfatórias, os trabalhos, quase perfeitos e os argumentos, sempre fundamentados em estudiosos do passado. Era um aluno que amava ser aluno. Sentava na primeira fila, destacava-se pela relação amistosa com os educadores, mesmo que suas opiniões – muitas, mas muitas vezes mesmo – divergissem das deles. Mas era assim que ele entendia sua formação: um confronto de ideias. É esse Jeferson, agora aos 40 anos, de convicções seguras, que, depois de muitos anos de preparação, incluindo faculdades de Filosofia e Teologia, conta um pouco dos desafios do religioso nos dias de hoje. O padre que está sempre se reinventando.(entrevista)O religioso estende a mão, cumprimenta firme e deseja que a paz de Cristo esteja presente. Começa a falar dos desafios dos novos tempos e de como se reinventar. “Sempre”, reafirma ele. Primeiro, nega-se a comentar sobre temas polêmicos e logo justifica: “Seja no divórcio, no aborto, na união homoafetiva, é complicado tratar disso tudo, porque sempre estaremos machucando feridas incuráveis e dores escondidas. Ou seja, a igreja precisa parar de jogar pedras, de maneira ontundente, nas feridas da sociedade”. Se ele sempre foi de convicções seguras, elas explicam, por exemplo, o porquê de sua atuação ir muito além dos altares. “O religioso precisa estar preparado para as necessidades de seu povo e da sociedade.” Recentemente, conta, especializou-se em duas novas capacitações: massoterapia, com enfoque na medicina tradicional chinesa, e yogoterapia. “Instrutor teórico e prático”, completa ele e gumenta: “O padre, hoje, tem que se adequar à realidade de cidades cosmopolitas. Tem que ser moderníssimo. E estar pronto em todas as áreas, é uma necessidade de todo ser humano que trabalha com gente. É o padre 3D. Nós, enquanto embaixadores de Cristo, devemos estar prontos pra rezar, pra cantar, pra ir do hospital a uma festa de casamento. Pronto pra sermos gerenciadores de ânimos e mestres em relações sociais. Por isso, também, é que não podemos ter vida dupla. Porque precisamos nos expor por inteiros na jornada”, entende. Pois é assim, preparado, como ele mesmo diz, que tornou-se o religioso que, em vez de condenar e julgar , ouve e aceita, e mostra-se respeitoso, sobretudo, quanto à história de cada um ede seu tempo. “Os desfavorecidos pela sociedade muitas vezes estão escondidos e invisíveis. E cabe a nós, religiosos ou não, colocá-los na roda da vida. Porque o mundo precisa muito mais de aulas de humanidade do que de religião termina ele.
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