O amor de Deus "não é
algo vago", mas "tem um nome e um rosto: Jesus Cristo"
No Angelus de ontem, o Papa
afirmou que o amor de Deus é o "tesouro" que dá sentido à vida e
ajuda a enfrentar as pequenas e grandes provas. Depois exortou cristãos e
muçulmanos ao respeito mútuo
Cidade do Vaticano, 12 de
Agosto de 2013
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste domingo (Lc 12,
32-48) nos fala do desejo do encontro definitivo com Cristo, um desejo que nos
faz estar sempre prontos, com o espírito desperto, porque aguardamos este
encontro de todo coração, inteiramente. Este é um aspecto fundamental da vida.
Todos nós, seja de modo explícito ou implícito, temos um desejo no coração.
Todos temos este desejo no coração.
É importante ver também este
ensinamento de Jesus no contexto concreto, existencial no qual Ele transmitiu.
Neste caso, o evangelista Lucas nos mostra Jesus que está caminhando com os
seus discípulos à Jerusalém, para a sua Páscoa de morte e ressurreição, e neste
caminho os educa partilhando com eles o que Ele mesmo leva no coração, as
atitudes profundas da sua alma. Entre estas atitudes está o desapego dos bens
terrenos, a confiança na providência do Pai e, precisamente, a vigilância
interior, a espera operante do Reino de Deus. Para Jesus é espera do retorno à
casa do Pai. Para nós é espera de Cristo mesmo, que virá para tomar-nos e
levar-nos à festa sem fim, como já fez com a sua Mãe Maria Santíssima, que
levou consigo ao Céu.
Este Evangelho nos quer dizer que
o cristão é alguém que leva dentro de si um desejo grande, um desejo profundo:
aquele de encontrar-se com o seu Senhor juntamente com o seus irmãos,
companheiros de caminhada. E tudo isto que Jesus nos diz resume-se numa famosa
frase de Jesus: “Onde está o vosso tesouro, ali estará o vosso coração” (Lc 12,
34). O coração que deseja...
Mas, todos nós temos um desejo!
Pobres pessoas aquelas que não têm um desejo! O desejo de seguir adiante, em
direção a um horizonte, e para nós cristãos este horizonte é o encontro com
Jesus, o encontro precisamente com Ele, que é a nossa vida, a nossa alegria, o
que nos faz feliz.
Mas, eu vos faria duas perguntas:
a primeira: todos vocês têm um coração desejoso, um coração que deseja? Pensem
e respondam em silêncio no vosso coração. Você tem um coração que deseja, ou
tem um coração fechado, um coração adormecido, um coração anestesiado pelas
coisas da vida? O desejo: seguir em frente em direção ao encontro com Jesus...
E, a segunda pergunta: onde está o seu tesouro, o que você deseja? Porque Jesus
nos disse: “Onde está o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”, e eu
perguntou: “Onde está o seu tesouro?
Qual é para você a realidade mais
importante, mais valiosa, a realidade que atrai o seu coração como um íman? O
que atrai o seu coração? Posso dizer que é o amor de Deus? Que é a vontade de
fazer o bem aos outros? De viver para o Senhor e para os nossos irmãos? Posso
dizer isso? Cada um responda no seu coração. Mas alguém poderia dizer-me:
Padre, mas eu sou um daqueles que trabalha, que tem família, para mim a
realidade mais importante é sustentar a minha família, o trabalho... Certo, é
verdade, hein?, é importante, mas qual é a força que mantém unida a família? É
precisamente o amor, e quem semeia o amor no nosso coração? Deus. O amor de
Deus.
É precisamente o amor de Deus que
dá sentido aos pequenos compromissos diários e também ajuda a enfrentar as grandes
provações. Este é o verdadeiro tesouro do homem. Seguir em frente na vida com
amor, com aquele amor que o Senhor semeou no coração, com o amor de Deus. E
este é o verdadeiro tesouro. Mas, o que é o amor de Deus? Não é algo vago, um
sentimento genérico; o amor de Deus tem um nome e um rosto: Jesus Cristo.
Jesus. O amor de Deus se manifesta em Jesus, porque nós não podemos amar o
ar... Mas, amamos o ar, amamos tudo? Não, não é possível! Amamos pessoas, e a
pessoa que nós amamos é Jesus, o dom do Pai entre nós.
É um amor que dá valor e beleza a
tudo mais, um amor que dá força à família, ao trabalho, ao estudo, à amizade, à
arte, a cada iniciativa humana. E dá sentido também às experiências negativas
porque nos permite ir além, não ficarmos prisioneiros do mal, mas nos faz
seguir em frente, sempre nos abre à esperança. Assim, o amor de Deus em Jesus
sempre nos abre à esperança, àquele horizonte de esperança, ao horizonte
final da nossa peregrinação. Dessa forma também os cansaços e as quedas
encontram um sentido. Também os nossos pecados encontram um sentido no amor de
Deus, porque este amor de Deus em Jesus Cristo nos perdoa sempre, nos ama tanto
que nos perdoa sempre.
Caros irmãos, hoje na Igreja
fazemos memória de Santa Clara de Assis, que seguindo os passos de Francisco
deixou tudo para consagrar-se a Cristo na pobreza. Santa Clara nos dá um bonito
testemunho deste Evangelho de hoje: que ela nos ajude, juntamente com a Virgem
Maria, a vivê-lo também nós, cada um de acordo com a própria vocação.
Depois do Angelus
Caros irmãos e irmãs,
lembremos que na próxima
quinta-feira é a solenidade da Assunção de Maria. Pensemos em Nossa Mãe, que
chegou ao céu com Jesus, e celebremos a ela neste dia.
Gostaria de cumprimentar os
muçulmanos do mundo inteiro, nossos irmãos, que há pouco celebraram a conclusão
do mês do Ramadan, dedicado de modo especial ao jejum, à oração e à esmola.
Como escrevi na minha Mensagem para esta circunstância, desejo que cristãos e
muçulmanos se comprometam para promover o respeito recíproco, especialmente por
meio da educação das novas gerações.
Cumprimento com afeto todos os
romanos e os peregrinos presentes. Também hoje tenho a alegria de cumprimentar
alguns grupos de jovens: principalmente aqueles que vieram de Chicago, em
peregrinação a Lourdes e a Roma; e depois os jovens de Locate, de Predore e
Tavernola Bergamasca, e os escoteiros de Vittoria. Repito também a vós as
palavras que foram o tema do grande encontro do Rio: "Ide e fazei
discípulos entre todas as nações".
A todos vós, e a todos, desejo um
bom domingo, e um bom almoço! Nos vemos!
Tradução do original italiano por
Thácio Siqueira
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