Desde muito cedo Teresa Martin iniciou sua devoção ao Menino Jesus. Aos seis anos e meio, começa a se preparar para a primeira comunhão, sendo catequizada por sua irmã Paulina. Graças a esta catequese, o amor ao Menino Jesus vai aumentando em seu coração. Ao falar deste período, nossa santa afirma que "amava-o muito" (A 31v). Não é, pois, de se estranhar que à época de seu primeiro chamado à vida carmelitana, tenha aceitado com entusiasmo a proposta de Madre Gonzaga de se chamar "Teresa do Menino Jesus" quando ingressasse no Carmelo. Após prepará-la para a primeira comunhão, Paulina, já Irmã Inês de Jesus no Carmelo de Lisieux, convida a menina a considerar sua alma como um jardim de delícias no qual é preciso cultivar as flores de virtudes que Jesus virá colher em sua primeira visita.
No ano de 1887 se oferece ao Menino Jesus para ser seu brinquedo (A 64r), desejando abandonar-se sem reservas à sua misericórdia. Isto ocorre por ocasião da célebre audiência com o papa Leão XIII. Teresa esperava que o papa autorizasse sua entrada imediata no Carmelo, apesar da pouca idade. Enorme decepção! Recebe palavras ternas e não a resposta desejada. Por isso não fica perturbada. Não havia se oferecido para ser a "bolinha" de Jesus e não dissera que ele poderia fazer o que quisesse com ela?
A partir do dia 9 de abril de 1888, data de seu ingresso no Carmelo de Lisieux, Teresa pode, finalmente, realizar seu sonho de menina: assina suas cartas durante todo o postulantado como "Teresa do Menino Jesus" (Ct 46-79). No dia 10 de janeiro de 1889, dia em que recebe o hábito, assinará pela primeira vez "Irmã Teresa do Menino Jesus e da Santa Face", que será seu nome definitivo de Carmelita (Ct 80). Quando entra na clausura, a primeira coisa que lhe chama a atenção é o sorriso de seu "Menino cor de rosa" (A 72v), que a acolhe. Ela se encarregará de colocar-lhe flores desde a Natividade de Maria: "era a Virgenzinha recém-nascida que apresentava sua florzinha ao Menino Jesus". (A 77r).
Teresa dedica muitas poesias, recreações piedosas e orações ao Menino Jesus, ao mistério do Natal e aos primeiros anos da infância de Cristo. No dia 21 de janeiro de 1894 cria e oferece à Madre Inês, em sua primeira festa como priora, uma pintura a óleo do Menino Jesus, a que intitula como "O sonho do Menino Jesus". Este quadro mostra o Menino Jesus de olhos abaixados, brincando com as flores que lhe são oferecidas. Ao fundo aparece sob a claridade da lua a Sagrada Face debaixo da cruz e cerca dos instrumentos da paixão. Em uma carta enviada no mesmo dia (Ct 156), Teresa comenta seu quadro: longe de temer os sofrimentos futuros, o Menino Jesus conserva um olhar sereno e até sorri, pois sabe que sua esposa (Irmã Inês) permanecerá sempre ao seu lado para amá-lo e consolá-lo. Quanto aos olhos baixos, estes mostram sua atitude quanto à própria Teresa: "Ele está quase sempre dormindo". Neste último detalhe já vislumbramos uma prefiguração da grande prova de fé que irá acompanhá-la em seus últimos dias.
Nos finais de 1894, a jovem carmelita descobre sua "Pequena Via". A infância espiritual do cristão, feita de confiança e abandono, deverá se moldar na própria infância de Jesus, em seu caráter de Filho, tão particularmente representado nos traços de sua infância. No dia 7 de junho de 1897, Teresa se deixa fotografar, tendo nas mãos as estampas do Menino Jesus e da Sagrada Face. Sobre a imagem do Menino Jesus, conhecido como "de Messina", Teresa copia o versículo de Pr 9,4: "Quem for pequenino, venha a mim".
FONTE http://www.santuariosantaterezinha.com.br
Santa Teresinha do Menino Jesus
Início
“Em 1898 aparecia a primeira edição da ‘Histoire d’une ame.’ A autobiografia da pequena carmelita de Lisieux se tornaria o monumento da espiritualidade do século XX. Ainda que, imediatamente após a sua morte, o pequeno círculo do Carmelo de Lisieux já se desse conta do valor dos manuscritos, naquele momento ninguém podia prever o impacto e a irradiação que estas páginas teriam sobre as almas. A simplicidade e a força da mensagem evangélica e da doutrina paulina sobre a graça se puseram, mais uma vez na história da Igreja, a irradiar uma luz fosforescente, como balizas ao longo do caminho dos seres humanos em busca de Deus.”( História de uma alma, p.9-prefácio)
“Tudo o que santa Teresa escreveu foi por obediência. É a obediência. É a obediência- uma escuta forte e atenciosa, como nos ensina a etimologia de ob-audire – que está na base da transparência que caracteriza as páginas de Teresa.” (História de uma alma, p.9-prefácio)
“Ela nunca se arriscou unicamente numa teologia da inteligência ou da razão.Praticou antes de tudo a teologia do coração. Porém essa teologia do amor é a única que é capaz de subir até o topo do saber sobre Deus.Teresa é a demonstração irrefutável do fato de que a teologia não se limita à mera abordagem científica e crítica do dado revelado.” (História de uma alma, p.10-prefácio)
“Teresa obteve essa inteligência do coração por um verdadeiro excesso de amor por seu Esposo e Senhor.”( História de uma alma, p.13-prefácio).
Nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus
“No dia 2 de janeiro de 1873, nasce a nona filha: Maria Francisca Teresa. É a nona filha, mas é muito querida, esperada, amada e cantada. Quinze dias antes do nascimento, Zélia escreve à sua cunhada de Lisieux: ‘Eu amo loucamente as crianças, nasci para tê-las.’ A pequena Teresa sentiu esse amor louco. Antes mesmo do nascimento,seu coraçãozinho “sensível e amoroso vibrou com aquela que a leva. Quinze dias após o nascimento, a mãe se abre mais uma vez acunhada: ‘Durante a gravidez, observei uma coisa que nunca acontecera com meus outros filhos; quando eu cantava, ela cantava comigo…Confio isso a você, ninguém poderia acreditar nisso.” Uma mãe que canta. Uma filha que vibra em uníssono.(História de uma alma, Introdução à edição brasileira, p.28-29)
Doença de Zélia Guérin, Mãe de Teresinha.
Quando Teresinha repousa, enfim, nos braços acariciadores de sua mãe, o céu se assombra.Ela fica doente, luta contra a morte. Para salvá-la, Zélia, então com quarenta e dois anos de idade e acometida de um câncer no seio, do qual morrerá menos de cinco anos mais tarde, vê-se obrigada a confiá-la a uma ama-de-leite, a “Rosinha”, que leva o bebê à fazenda de Semallé. Primeira e dolorosa separação para Teresa, com dois meses e alguns dias de idade.
(História de uma alma, Introdução à edição brasileira, p.29).
Morte da Mãe de Teresinha;
No dia 28 de agosto de 1877, o sol de Teresa se põe. Zélia morre. Novo arrancamento, que fere a criança até o fundo da alma. Comum sentimento psicanalítico afinado, Teresa saberá fazer a ligação: “A partir da morte de Mamãe, meu caráter feliz mudou completamente, eu tão viva, tão expansiva, fiquei tímida e mansa, excessivamente sensível”(A 13r). (História de uma alma, Introdução à edição brasileira, p.29).
A irmã Paulina vai para o Carmelo;
Teresa está com 8 anos e meio. Em outubro de 1881, ingressa como semi-interna na abadia das beneditinas.(…) A pobre florzinha acha amargo passar da ‘terra seleta’ para a ‘terra ordinária’.(22f) Por isso, apesar dos bons resultados escolares – classifica-se facilmente entre as primeiras -, apesar, sobretudo, do afeto das religiosas, Teresa designará esses cinco anos de colégio como ‘os anos mais tristes da sua vida’.(IBID.) Nessa época, seu grande sonho era ir um dia, com Pauline, ‘para um deserto remoto’(25v). De fato, Pauline, que está com21 anos, tem os olhos voltados para o ‘deserto’ do Carmelo. Sua partida é rapidamente decidida. Teresa fica sabendo, por surpresa, durante o verão de 1882.(Obras completas Tereza do Menino Jesus e da Sagrada face, p.24).
“Paulina, sua ‘segunda Mamãe’, decide seguir sua vocação no mosteiro do Carmelo.” (História de uma alma, Introdução à edição brasileira, p.30)
Teresa é curada através da intercessão de Nossa Senhora.
Mais uma vez ela perdeu a figura materna protetora e afundou-se numa doença psicossomática. Depois de quase dois meses dessa “tão estranha doença”(A 28v), Teresa é curada da crise mais forte que ela jamais conhecerá pelo sorriso da Virgem Maria, ‘sua Mãe do céu’(A30r). Sua doença, da qual uma longa fase de escrúpulos e de lágrimas freqüentes serão os sintomas significativos, só é vencida no dia de Natal de 1886, quando Teresa “reencontra a força de alma que perdera aos 4 anos e meio e que devia conservar para sempre.(História de uma alma, Introdução à edição brasileira, p.30).
Primeira comunhão
Os três meses que antecedem imediatamente a primeira comunhão de Teresa marcam um dos tempos no diálogo espiritual entre a menina e sua mãezinha(cf. as doze cartas de irmã Inês em CG,PP.157-171). Marie participa ativamente na preparação da irmãzinha(35f). Teresa colhe todo dia ‘dezenas de flores’ para o Menino Jesus: sacrifícios, atos de virtude. Irmã Inês as ilustra com graciosos símbolos: rosas, violetas, margaridas, pilriteiros, lírios-do-vale, miosótis etc. A menina as ‘perfuma’ com as aspirações de amor.
Assim entra o simbolismo da flor no vocabulário, melhor, na espiritualidade de Teresa. Em 1896, em pleno desabrochar de seu gênio místico, a santa não logrará encontrar expressão mais adequada para seu amor apaixonado por Jesus que o gesto da menininha dos Buissonnets: lançar flores…até o dia em que o símbolo se torne realidade. No seu leito de enfermaria, a flor que ela desfolha é sua própria vida. (Obras completas Tereza do Menino Jesus e da Sagrada face, p.26).
Aprofundamento no amor em 1884
O ano de 1884 representa um ápice espiritual na vida de Teresa criança. A autobiografia mostra a densidade da experiência mística ligada a essas datas importantíssimas:
-8 de maio de 1884, primeira comunhão: ‘não era mais um olhar; mas uma fusão’ entre Jesus e Teresa(35r);
-22 de maio, Ascensão, segunda recepção da Eucaristia: “Não sou mais eu quem vive, é Jesus quem vive em mim”(36r).
-14de junho,recepção do “sacramento do Amor”(36v), a crisma. No dizer de Céline, Teresa prepara-se com uma ‘santa embriaguez’.
-no decorrer do ano de 1884, outra comunhão faz nascer em seu coração ‘um grande desejo de sofrimento’; ela repete: “Ó Jesus! doçura inefável, transformai para mim em amargura todas as consolações da terra.(36f/v).
(Obras completas Tereza do Menino Jesus e da Sagrada face, p.26-27).
Ingresso no Carmelo
Em 8 de outubro, menos de três meses antes do natal,data escolhida por ela para seu ingresso no Carmelo, Teresa arrisca-se afinal, a falar com seu tio Guérin. Primeira reação negativa(C 27). Quinze dias depois,22 de outubro, reviravolta completa sob a influência da irmã Inês de Jesus.
Porém, o cônego Delatroette, superior do Carmelo, opõe então um veto categórico(52f). A insistência das carmelitas só obtém um endurecimento desse não obstinado. O capelão do Carmelo, padre Youf, é favorável ao projeto.Uma criança tão encantadora! Ah! Sou eu quem a quer;Aprova o recurso ao bispo de bayeux.
Ao vigário-geral padre Révérony, cabe de fato a última decisão. Homem prudente,que estima a vida religiosa, terá logo ocasião de examinar à vontade a candidata.
O Natal encontra Teresa nos Buissonnets: a resposta de Bayeux não veio…”Essa provação foi muito grande para minha fé”(67v). Em 28 de dezembro, Madre Maria de Gonzaga recebe de dom Hugonin a autorização para admitir a aspirante sem dilação. Teresa fica sabendo e 1°de janeiro;mas,por uma viravolta desconcertante, irmã Inês não quer mais o ingresso da irmãzinha antes da Páscoa, por causa da Quaresma. Provação de um ‘caráter muito particular’, maior ainda que a anterior. Teresa reage com generosidade.Retoma as aulas semanais com a senhora Papineau. Compreende, sobretudo,o “preço do tempo” e faz que renda o máximo pela fidelidade nas minúcias(68v). Considera o mês demarco como “um dos mais bonitos”da sua vida.É também um dos tempos fortes dos seus intercâmbios espirituais, por escrito, com sua confidente, irmã Inês de Jesus.
É para sempre que estou aqui!…(Ms A, 69v).
Na manhã de 9 de Abril,após “um último olhar para os Buissonnets, Teresa assiste com os seus à missa das sete horas no Carmelo. Seguem-se as dores da separação, o último beijo em sua família, sobre tudo em seu velho pai,que a abençoa chorando. (ibid.)(…)Teresa é levada à sua cela. Só o indispensável nesse quarto de paredes de estuque: o leito, simples enxergão sobre uma tábua;mobília rudimentar. Nem água, nem eletricidade, nem aquecimento. Tem-se aqui uma sensação de solidão e de paz: “Parecia-me ter sido transportada para um deserto,nossa pequena cela, sobretudo, encantava-me”.(IBID). Teresa morará nela por cinco anos, pelo menos. É aí que redigirá sua correspondência, sentada num banquinho, uma estante portátil(sua escrivaninha)sobre os joelhos, iluminada,à noite, por uma lâmpada de querosene.
A postulante não recebe hábito particular, apenas uma pelerine por cima do seu longo vestido azul de moça, e a touca tradicional. (…)Irmã Teresa do Menino Jesus enfrenta sem ilusão sua exigente vocação.
“Tudo será para Ele, tudo!
(Obras completas Tereza do Menino Jesus e da Sagrada face, p.30-35).
Familiaridade no Carmelo.
Que momento ideal para se dizer! “Amadurecida no crisol das provações exteriores e interiores”(A 3r), Ela pode, discretamente, dedicar-se à formação monástica das noviças recém-chegadas, entre as quais está a sua própria irmã Celina, tendo sido a entrada desta, para Teresa, ‘o mais íntimo de (seus) desejos’.(A 81v). Ela é amada na comunidade a serviço da qual ela desenvolve os ricos dons de sua natureza: pintar, escrever poesias e composições recreativas para os dias de festa. A comunidade apreciou particularmente a sua peça sobre Joana d’Arc, representada para a festa de madre Inês, no dia 21 de janeiro de 1895, apenas alguns dias antes de ela começar o Manuscrito A. Sua saúde ainda é relativamente boa. Faz dois anos que sua querida Paulina é priora, o que leva Teresa a ‘voar nas estradas do amor’(A 80v). O doloroso sofrimento do seu pai, falecido em 29 de julho, é passado;(História de uma alma, Introdução à edição brasileira, p.34).
Características de Santa Teresinha
“O coração do meu esposo é só meu assim como o meu é só dele”(Obras completas Tereza do Menino Jesus e da Sagrada face, p.43).
“Esses dons são numerosos!
Um ‘coração sensível’(A 4v, 38r).
Um ‘caráter feliz’(A 12r).
Uma inteligência aberta’ muito cedo’(A 4v), que entende e retém facilmente ‘o sentido das coisas’ (A 37r).
O olho que vê detalhe.
A imaginação viva e muito desperta para o símbolo, como suas poesias dão testemunho.
O gosto pelo grande, pelo belo, pelo verdadeiro.
A capacidade de trabalhar bem com a inteligência.
A intuição e a interioridade, que fazem nascer nela’ pensamentos profundos’ e ‘sentimentos profundos’.
Uma memória que, precisamente, para os ’pensamentos’ e as ’impressões profundas e poéticas, é muito fiel.
É conhecimento do coração humano e da psicologia diferente das pessoas.
O seu próprio ‘sentir’ de tal modo afinado.
Uma longa familiaridade com o espiritual e o divino.
Pureza e vigor de alma.
Se a tudo isto se acrescentar o dom da expressão, não é de se admirar que Teresa se torne uma boa escritora sem ter procurado sê-lo. E ela possui esse dom da expressão!(História de uma alma, Introdução à edição brasileira, p.38).
A primeira fase da vida de Santa Teresinha
Incluídas todas as digressões, poder-se-ia, grosso modo, subdividir assim a descrição dos três períodos:
O primeiro período compreende duas seções:1.As relações afetuosas de Tereza com seus pais e suas irmãs. (A 4v-11v);2. A doença mortal de sua mãe(A 12r-13r).
O segundo período compreende também duas grandes seções:1.A vida dos Buissonnets antes da entrada de Paulina no Carmelo(A 13v-26v); 2. As ‘misérias’ da vida(A 27r-44v).
O terceiro período compreende quatro seções: 1.A transformação de sua alma após o Natal de 1886(A 45r-50v); 2. A luta para entrar no Carmelo(A 51r-55v);3. A viagem a Roma(A 56r-68r); 4. Sua vida no Carmelo(A 68v-84v).
(História de uma alma, p.42)
A segunda fase da vida de Santa Teresinha
A tuberculose fez progressos fulminantes. Agora a morte está próxima. Fim de maio-começo de junho de 1897, madre Inês manifesta-lhe o seu desejo de vê-la redigir ‘a continuação de sua pequena Vida’(LC 183), iniciada em 1895. Isto nos dará o segundo manuscrito autobiográfico, o Manuscrito G, para Maria de Gonzaga. A própria Teresa estabelecerá, como máximo de clareza, desde as três primeiras linhas do Manuscrito G, sua ligação indissolúvel, quando diz a Maria de Gonzaga: ‘Vós me testemunhastes o desejo de que convosco eu acabe de Cantar as Misericórdias do Senhor[cf. A 2r].Esse suave canto que tinha começado com a vossa filha querida,Inês de Jesus…”(G 1r). A perspectiva do Manuscrito G é, portanto, como a do Manuscrito A, essencialmente biográfica, e o leitor não deixará de observar, como no Manuscrito A, a eterna passagem do passado ao presente e até ao futuro.( História de uma alma, p.215).
Eis o conteúdo do Manuscrito G e o plano que Teresa seguirá:
1.Prólogo(G 1r-2v)
2.A descoberta da ‘pequena via’(G 2v-3r)
3. A iluminação divina(G 3r-4v).
4. A provação da fé(G 4v-7v).
5.A separação pela morte ou pela partida em missão(G 8r-11v).
6. A caridade fraterna(G 11v-31r).
a)O mistério da caridade(G 11v-12v).
b)Prática exterior da caridade(G 12v-17v).
c)A “caridade puramente espiritual”(G18r-20r)
7.Teresa instrumento do Senhor entre suas noviças(G 20v-27r) com uma digressão sobre a oração(G24v-26r).
8.Retomada do tema das relações fraternas(G 26v-31r).
9.”A história de meus irmãos”espirituais(G 31v-33v).
10.A união com Deus e sua influência sobre as almas(G 34r-37r).
(História de uma alma, p.221).
A terceira fase da vida de Santa Teresinha
Em lugar nenhum Teresa de Lisieux se revelou tanto doutorada Igreja como no Manuscrito M, composto a pedido de sua irmã Maria do Sagrado Coração. Este escrito foge a qualquer classificação.(História de uma alma, p.288).
Maria do Sagrado Coração espera de Teresa exatamente duas coisas: o relato de um sonho que ela teve e, sobretudo, a exposição de sua ‘pequena doutrina’. Maria não deseja conhecer a vida de Teresa, mas sua ‘arte de amar’. ‘os segredos de Jesus: ‘São bem doces os segredos de Jesus a Teresa e eu gostaria de ainda de ouvi-los”( História de uma alma, p.289).
Algumas palavras sobre a ordem interna do Manuscrito, que é uma verdadeira torrente de pensamentos e de fervor, aparentemente um turbilhão impetuoso, mas onde Teresa, fina e inteligente como sempre, pretende, no entanto, muito explicitamente, ensinar sua ‘pequena doutrina’.Ela sabe para onde vai.
I. As páginas dirigidas a Maria do Sagrado Coração(M 1r-v)
II. As páginas dirigidas a Jesus:
A.”Prelúdio:o sonho de10 de maio de 1896(M 2r-v).
B. A ‘doutrina’ de Teresa:
1.O tormento dos desejos incompatíveis(M2v-3r).
2.A pacificação do amor(M 3r-3v)
3.A vida para o perfeito amor:
a.Indicação e justificação(M 3v).
b.O amor e suas obras(M 4r-v).
c.Descrição mais detalhada: o pequeno pássaro e Águia(M 4v-5r).
d. Visão teológica sintética(M 5v)
e. Súplica final(M 5v).
(História de uma alma,p.291)
Morte de Teresinha
“Não morro, entro na vida”
Que caminhada desde 4 de abril de 1877, quando, não sabendo ‘nem sequer segurar uma caneta’, Teresa escrevia sua primeira ‘carta’ no colo de Pauline! Aproxima-se o tempo em que será obrigada a escrever por meio da irmã, ditando suas últimas mensagens. Restam-lhe menos de seis meses de vida.
4 de abril – 4 de junho: antes do final da Quaresma em que procurou suportar o jejum,Teresa adoece gravemente.Agora, os sinais de tuberculose apareceram evidentes: rosto vermelho de febre,ausência total de apetite, esgotamento que mal lhe permite ficar de pé.
25 de agosto – 30 de setembro: fraca demais para escrever e, logo, para falar, a doente entra no silêncio. Depois de uma penosa agonia, morre num último ”Meu Deu, eu vos amo!” Acabava de erguer os olhos para o céu, que via ela?”.Durante as horas seguintes ao falecimento, “era de uma beleza encantadora, comum sorriso falante que parecia dizer: ‘Deus é só amor e misericórdia”.(Madre Inês, PA, p.206).
(Obras completas Tereza do Menino Jesus e da Sagrada face, p.58-59).
“Uma das obras de maior alcance espiritual nos últimos cem anos é, certamente, a famosa história de uma alma, publicada a primeira vez treze meses depois da morte da jovem freira de 24 anos, ocorrida em 30 de setembro de 1897. (…)Tereza foi canonizada pelo papa Pio XI em 17 de maio de 1925, mas só foi possível ter acesso a seus manuscritos depois da morte de sua irmã mais velha. Paulina,que fora também sua superiora no Carmelo e herdeira de seus papéis, ocorrida em 28 de julho de 1951.”(Introdução à edição brasileira, História de uma alma, p.19).
Biobliografia: Obras Completas.Editoraloyola.teresa doMeninoJesus e da Sagrada Face;
A históriadeumaalma.2. ed. Teresa de Lisieux. Paulinas.
História de uma alma
A vós, Madre querida, vós que sois duas vezes minha Mãe,venho confiar a história de minha alma… No dia em que me mandastes fazê-lo, pareceu-me que isso dissiparia o meu coração ao ocupá-lo com ele mesmo, mas depois Jesus me fez sentir que ao obedecer simplesmente eu lhe seria agradável; aliás não vou fazer senão uma só coisa: Começar a cantar o que devo repetir eternamente – “As Misericórdias do Senhor!!!”(A história de uma alma, p.47).
Jesus chama quem lhe agrada
Antes de tomar a pena, ajoelhei-me perante a estátua de Maria, (aquela que nos deu tantas provas das preferências maternais da Rainha do céu para nossa família), supliquei-lhe para guiar a minha mão a fim de que eu não escreva nenhuma linha que não lhe seja agradável. Em seguida,abrindo o Santo Evangelho, meus olhos caíram sobre estas palavras:-“Tenho Jesus subido a uma montanha, chamou a si quem se agradou; e eles vieram a Ele(S. Marcos,cap.III,v.13). Eis aqui o mistério de minha vocação, de minha vida inteira e, sobretudo, o mistério dos privilégios de Jesus sobre minha alma..Ele não chama aqueles que são dignos,mas aqueles de quem se agrada ou como diz São Paulo-: “Deus tem piedade de quem Ele quer e faz misericórdia a quem quer fazer misericórdia. Isso não é obra daquele que quer nem daquele que corre, mas de Deus que faz misericórdia.(Ep. Aos Rom. Cap.IX, v.15 e 16). (A história de uma alma, p.48).
Sabedoria
Durante muito tempo me perguntei por que Deus tinha preferências, por que todas as almas não recebiam um grau igual de graças, admirava-me ao vê-Lo prodigalizar favores extraordinários aos santos que o tinham/ofendido,como São Paulo, Santo Agostinho e que Ele forçava por assim dizer receber suas graças ou a ler a vida dos Santos dos quais Nosso Senhor se agradou de acariciar do berço ao túmulo, sem deixar em sua passagem nenhum obstáculo que os impedisse de elevar-se até Ele e prevenindo essas almas de tais favores que elas não podiam manchar o brilho imaculado de sua veste batismal; eu me perguntava por que os pobres selvagens por exemplo morriam em grande número antes de ter ouvido pronunciar o nome de Deus…Jesus dignou-se de instruir-me nesse mistério, pôs diante de mim o livro da natureza e compreendi que todas as flores que Ele criou são belas, que o brilho da rosa e a brancura do Lírio não tiram o perfume da pequena violeta ou a simplicidade arrebatadora da margarida do campo…Compreendi que se todas as florzinhas quisessem ser rosas, a natureza perderia seu adorno primaveril, os campos não seriam mais esmaltados de florzinhas. (A história de uma alma, p.49).
A perfeição consiste em ser o que Deus quer que sejamos
“Assim é no mundo das almas que é o jardim de Jesus. Ele quis criar os grandes santos, que podem ser comparados ao Lírio e às rosas, mas criou também os menores e os que devem contentar-se em ser margaridas ou violetas destinadas a alegrar olhares de Deus quando os abaixa aos seus pés. A perfeição consiste em fazer a sua vontade, em ser o que Ele quer que sejamos… Compreendi também que o amor de Nosso Senhor se revela tanto na alma simples que em nada resiste à sua graça como na alma mais sublime…”(A história de uma alma, p.49).
Ensinamentos sobre a falsa humildade
“Parece-me que se uma florzinha pudesse falar, diria simplesmente o que Deus fez por ela sem tentar esconder os seus benefícios;sob o pretexto de falsa humildade não diria que ela é sem graça e sem perfume, que o sol lhe tirou o brilho e que as tempestades quebraram o seu talo ao passo que ela reconheceria nela exatamente o contrário. A flor que vai contar a sua história alegra-se por ter de publicar as amabilidades totalmente gratuitas de Jesus, reconhece que nada era capaz nela de atrair seus olhares divinos e[que] sua misericórdia sozinha fez tudo o que há de bem nela.”(A história de uma alma, p.50).
Meu Deus, escolhi tudo.
“Meu Deus, escolhi tudo. Não quero ser uma santa pela metade,não tenho medo de sofrer por vós,só tenho medo de uma coisa é guardar minha vontade, tomai-a, pois ‘Eu escolho tudo’ o que quiserdes! “(A história de uma alma, p.62).
Sonho de Santa Teresinha
“Uma noite, sonhei que saía para ir passear sozinha no jardim; tendo chegado embaixo dos degraus que era preciso subir para chegar aí, parei tomada de espanto. Diante de mim, perto do caramanchão, encontrava-se um barril de cal e sobre esse barril dois horrendos diabinhos que dançavam com uma agilidade surpreendente apesar dos ferros de passar quem tinham nos pés; de repente eles lançaram sobre mim seus olhos chamejantes, depois no mesmo momento, parecendo bem mais assustados que eu, precipitaram-se para baixo do barril e foram esconder-se na roupa que estava na frente. Vendo-os tão pouco bravos quis saber o que iam fazer e me aproximei da janela,olhando com um ar inquieto se eu ainda estava lá e me vendo sempre recomeçavam a correr como desesperados. -Sem dúvida este sonho não tem nada de extraordinário, no entanto creio que Deus permitiu que me lembrasse dele, a fim de provar que uma alma em estado de graça não tem nada a temer dos demônios que são covardes, capazes de fugir diante do olhar de uma criança…”(A história de uma alma, p.63).
Santa Teresinha tinha o hábito de nunca se queixar
“Tendo adquirido o bom hábito de nunca se queixar; mesmo quando se tirava o que era dela, ou então quando era acusada injustamente, ela preferia calar-se e não se desculpar, isso não era mérito de sua parte, mas virtude natural.” (A história de uma alma, p.65).
Amor aos pobres
“Durante os passeios que fazia com papai, ele gostava de me fazer levar a esmola aos pobres que encontrávamos;” (A história de uma alma, p.71).
Procissão do Santíssimo Sacramento
“Eu gostava sobretudo das procissões do Santíssimo Sacramento, que alegria ao semear flores sob os passos de Deus!…mas antes de deixá-las cair as lançava o mais alto que podia e nunca estava tão feliz que ao ver minhas rosas desfolhadas tocar o ostensório sagrado. (A história de uma alma, p.74).
Teresinha se alegrava pela felicidade da irmã
“O dia da 1ª Comunhão de Celina me deixou uma impressão semelhante á da minha alma; ao me despertar de manhã sozinha na grande cama, senti-me inundada de alegria. “É hoje!..O grande dia chegou…”, não me cansava de/repetir essas palavras.Parecia-me que eu ia fazer minha 1ª Comunhão. Creio que recebi grandes graças nesse dia e o considero como um dos mais belos da minha vida. (A história de uma alma, p.89).
A Virgem do sorriso
Ao não encontrar nenhum socorro na terra, a pobre Teresinha voltara-se para sua Mãe do Céu, pedia-lhe de todo coração que tivesse piedade dela…De repente a Santíssima Virgem me apareceu bela como eu nunca vira nada tão belo, seu rosto respirava uma bondade e uma ternura inefável, mas o que me penetrou até o fundo da alma foi o ‘arrebatador sorriso da Sta. Virgem’. Então todas as minhas penas desvaneceram-se, duas grossas lágrimas jorraram de minhas pálpebras e correram silenciosamente pelas minhas faces, mas eram lágrimas de uma alegria sem mistura…
A Virgem do Sorriso
Ah! pensei, a Sra. Virgem sorriu para mim, como estou feliz…mas nunca o direi a ninguém, pois então minha felicidade desapareceria. Sem nenhum esforço baixei os olhos, e vi Maria que me olhava com amor, ela parecia emocionada e parecia adivinhar o favor que a Sta Virgem me concedera…Ah!fora a ela, às suas orações comoventes que eu devia a graça do sorriso da Rainha dos Céus. Ao ver o meu olhar fixado na Santíssima virgem, ela tinha dito:”Teresa está curada!”Sim, a pequena flor ia renascer para ávida, o Raio luminoso que a aquecera não iria parar seus favores; (A história de uma alma, p.97-98).
Amor à leitura
“gostava muito da leitura e teria passado nisso a minha vida, felizmente, tinha para guiar-me anjos da terra que me escolhiam livros que ao mesmo tempo em que me divertiam alimentavam o meu coração e meu espírito(…)Esta atração pela leitura durou até minha entrada no Carmelo. Dizer o nome dos livros que passaram pelas minhas mãos não me seria possível, mas nunca Deus permitiu que eu lesse um só capaz de me fazer mal. (A história de uma alma, p.101).
Sabedoria
Deus me fez a graça de conhecer o mundo apenas o bastante para desprezá-lo e me afastar dele. (A história de uma alma, p.103).
Reza pela conversão de um criminoso
Ouvi falar de um grande criminoso que acabava de ser condenado à morte por crimes horríveis, tudo levava a crer que morreria na impenitência. Quis a todo custo impedir que caísse no inferno, a fim de conseguí-lo empreguei todos os meios imagináveis; sentindo que por mim mesma nada podia/ a Deus todos os méritos infinitos de Nosso Senhor, os tesouros da Santa igreja(…)Mas a fim de me dar coragem para continuar a rezar pelos pecadores, disse a Deus que estava segura que Ele perdoaria o pobre infeliz Pranzini, que eu acreditava mesmo se ele não se confessasse e não desse nenhum sinal de arrependimento, tanto eu tinha confiança na misericórdia infinita de Jesus,mas que lhe pedia somente um sinal de arrependimento para minha simples consolação Minha oração foi atendida ao pé da letra!(No dia depois de sua execução caiu-me às mãos o jornal “La Croix. Abro-o às pressas e o que vejo?…Pranzini não se confessara, subiu ao cadafalso e se apressou a colocar sua cabeça no lúgubre buraco, quando de repente tomado por uma inspiração súbita,virou, pegou um Crucifixo que o padre lhe apresentava e beijou por três vezes as suas chagas sagradas!…Depois sua alma foi recebera sentença misericordiosa daquele que declara que no Céu haverá mais alegria por um só pecador que faz penitência que por 99 justos” que não precisam de penitência!… (A história de uma alma, p.126-127).
O amor
“Nunca o Amor encontra impossibilidades, porque crê que tudo é possível e tudo é permitido”. (A história de uma alma, p.143).
Proteção à Nossa Senhora
Supliquei ainda a Nossa Senhora das Vitórias que afastasse de mim tudo o que pudesse manchar a minha pureza(…)(A história de uma alma, p.151).
Pureza
“Tudo é puro para os puros(…)a alma simples e direita não vê mal em nada,visto que de fato o mal só existe nos corações impuros e não nos objetos insensíveis…Rezei a S. José para velar por mim; desde minha infância tinha por ele uma devoção que se confundia com meu amor pela Sta virgem.Todo dia eu recitava a oração: “Ó S. José, pai e protetor das virgens.” (A história de uma alma, p.151).
Caminho da perfeição
“Reconheci bem depressa que quanto mais se avança no caminho, mais se crê longe do fim, por isso agora me resigno a ver-me imperfeita e encontrar aí a minha alegria.” (A história de uma alma, p.182).
Mortificação
A única pequena mortificação que eu fazia no mundo e que consistia em não apoiar as costas quando estava sentada me foi proibida por causa da minha propensão a ficar curvada.Aquelas que me foram concedidas, sem que as pedisse consistiam em mortificar meu amor próprio, o que me fazia um bem muito maior que as penitências corporais… (A história de uma alma, p.183).
Plenitude da vontade de Deus
Ofereci-me a Jesus afim de que Ele cumprisse perfeitamente em mim a sua vontade sem que nunca as criaturas colocassem obstáculo… (A história de uma alma, p.187)
Amor às flores
Sabeis, Madre querida quanto gosto das flores;ao mefazerprisioneiroaos15 anos,renunciei para sempre à felicidade de correr pelos campos esmalta dos tesouros da primavera(…)Havia uma pequena flor chamada a Nigela dos trigos, que eu não tinha encontrado desde que morávamos em Lisieux,desejava muito rever essa flor de minha infância colhida por mim nos campos de Alençon; (A história de uma alma, p.198).
Irmãs no Carmelo
“Se minha Ir.A[mada] de J[esus]consentir com a entrada de Celina sem pôr obstáculo, será a resposta que Papai foi diretamente para junto de vós.Essa Irmã como sabeis, Madre Querida, achava que nós três já éramos demais e por conseguinte não queria admitir outra, mas Deus,que tem em sua mão o coração das criaturas e o inclina como quer, mudou as disposições da irmã; a primeira pessoa que encontrei após a ação de graças foi ela que me chamou com ar amável,disse-me para subir até vossa cela e me falou de Celina,com as lágrimas nos olhos…” (A história de uma alma, p.200).
Penosa entre todas as provações foi a doença de seu pai, que precisou ser internado numa clínica psiquiátrica. Depois de um longo martírio – para ele e suas filhas – de três anos(A73r), tendo tudo diminuído, ele a Lisieux e morre dois anos mais tarde. (Introdução ao Manuscrito A, p.30)
Sofrimento
“Quanto mais o sofrimento é íntimo[e] menos aparece aos olhos das criaturas, mais ele vos alegra, ó meu Deus.” (A história de uma alma, p.238).
“Sinto bem que não teria nenhuma decepção, pois quando se espera um sofrimento puro e sem nenhuma mistura, a menor alegria se torna uma surpresa inesperada; e depois vós os sabeis, Madre, o próprio sofrimento se torna a maior das alegrias quando é busca do como o mais precioso dos tesouros. (A história de uma alma, p.244).
Minha vocação é o amor
“Compreendi que o AMOR encerrava todas as vocações, que o amor era tudo, que Ele abrange todos os tempos e todos os lugares…Numa palavra que Ele é Eterno! Então no excesso de minha alegria delirante, exclamei: Ó Jesus, meu amor…minha Vocação, enfim eu a encontrei, minha vocação é o AMOR” (A história de uma alma, p.312).
Sabedoria nos relacionamentos
“Logo que essa irmã tinha chegado, se punha a fazer um barulhinho estranho que se assemelhava ao que se faria esfregando duas conchas uma sobre a outra. Só eu percebia isso, pois tenho o ouvido extremamente fino (um pouco demais talvez). Dizer-vos, Madre, quanto esse barulhinho me importunava, é impossível; tinha grande vontade de virar a cabeça e olhar a culpada que, certamente não se dava conta de seu tique, era o único meio de avisá-la; mas no fundo do coração eu sentia que valia mais sofrer isso pelo amor de Deus e para não afligir a irmã. Eu ficava portanto tranqüila, tentava unir-me a Deus esquecer o barulhinho…tudo era inútil, sentia o suor que me inundava e era obrigado a fazer simplesmente uma oração de sofrimentos, mas enquanto sofria, buscava um meio de fazê-lo não com irritação, mas com alegria e paz, pelo menos no íntimo da alma, então procurei gostar do barulhinho tão desagradável; em vez de tentar não ouvi-lo(coisa impossível) punha a minha atenção em escutá-lo bem como se fosse um arrebatador conserto e toda a minha oração(que não era de quietude), era oferecer esse conserto a Jesus.” (A história de uma alma, p.272).
O amor atrai o amor
“O amor atrai amor.” (A história de uma alma, p.280).
Teresa de Jesus
O santinho da Sagrada Face, confeccionado por Teresa para seu breviário(Or. 15 e 16), paralelo ao do Menino Jesus(Or. 13e14), manifesta o firme desejo de semelhança, de identificação como Cristo Criança e sofredor. Diante da máquina fotográfica de Celina, ela irá posar, no dia 7 de junho de 1897, embora esgotada, para deixar um testamento visual em dois retratos, seu nome resumindo-lhe a vocação e a “missão”(CT 109):Eu sou o Jesus de Teresa”, diz o Menino Jesus, erguendo um dedo para o céu.”Eu sou o Jesus de Teresa”, murmura a sagrada face com os olhos baixos. “Eu sou Teresa do Menino Jesus e da Sagrada face”, responde,como um eco, aquela que logo vai entrarem sua paixão seguindo Jesus no Getsêmani.(Obra completas, p.1029).
Resumo da Carta 85 para sua irmã Celina
“Viva Jesus!…Como é bom dedicar-nos a Ele,sacrificar-se pelo seu amor…”Celina!…Este nome querido ressoa docemente no fundo do meu coração!…Não se harmonizam, nossos dois corações perfeitamente?…(…)A vida passa…A eternidade se aproxima a passos largos…Em breve, viveremos da própria vida de Jesus…depois de termos sido desalteradas na fonte de todas as amarguras, seremos deificadas na própria fonte de todas as delícias…(…)Ofereçamos nossos sofrimentos a Jesus a fim de salvar as almas, pobres almas!… elas têm menos graças do que nós, embora todo o sangue de um Deus tenha sido derramado para salvá-las…no entanto, Jesus quer fazer depender sua salvação de um suspiro de nosso coração…Que mistério!…Se um suspiro pode salvar uma alma, que não poderão fazer sofrimentos como os nossos?…Não neguemos nada a Jesus!… Até breve!…Oh!o Céu! Quando é que estaremos lá?
O grãozinho de areia de Jesus
(Obra completas, p.397-399).
Resumo da Carta 108 para sua irmã Celina
(…)Celina querida,façamos em nosso coração um pequeno sacrário no qual Jesus possa se refugiar, será consolado, então, e esquecerá o que não podemos esquecer: “A ingratidão das almas que o abandonaram num sacrário deserto!… (Obra completas, p.423).
Resumo da Carta 141 para sua irmã Celina
(…)Nosso Bem-amado não precisados nossos belos pensamentos,das nossas obras esplendorosas; se Ele quiser pensamentos sublimes, Ele tem seus anjos, suas legiões de espíritos celestes cuja ciência ultrapassa infinitamente a dos maiores gênios da nossa triste terra…?Portanto, não foi pois o espírito nem os talentos que Jesus veio buscar na terra. Ele se fez a flor dos campos para nos mostrar quanto gosta da simplicidade. O lírio do vale só almeja uma gotinha de orvalho…E foi por isso que ele criou uma que tem por nome Celina!… (Obra completas, p.468).
Resumo da Carta 213 para o seminarista Bellière
Um santo disse:A maior honra que Deus pode fazer a uma alma, não é dar-lhe muito, mas pedir-lhe muito! Portanto, Jesus vos trata como privilegiado. Ele quer que comeceis imediatamente a vossa missão e que, pelo sofrimento, salveis muitas almas. Não foi sofrendo, morrendo, que Ele resgatou o mundo?… (Obra completas, p.566).
Consagração à sagrada face
Ó face adorável de Jesus! como vos dignais escolher particularmente nossas almas para vos dardes a elas, acabamos de consagrá-las a vós…Parece , ó Jesus, que vos ouvimos dizer: Abri para mim, minhas irmãs, minhas esposas bem-amadas,pois minha Face está coberta de orvalho e meus cabelos de gotas da noite”. Nossas almas compreendem vossa linguagem de amor; queremos enxugar vosso doce Rosto e consolar-vos do esquecimentos dos maus a cujos estais ainda como que escondido. Eles vos consideram como um objeto de desprezo…Ó Rosto mais belo que os lírios e as rosas da primavera! Não estais escondido a nossos olhos…As Lágrimas que turvam vosso divino olhar mostram-se como Diamantes preciosos que desejamos recolher para comprar, com seu valor infinito, as almas de nossos irmãos.
De vossa Boca Adorada ouvimos a queixa amorosa; compreendendo que a sede que vos consome é uma sede de Amor, gostaríamos de possuir, para vos desalterar, um Amor infinito…Esposo Bem-Amado de nossas almas, se tivéssemos o amor de todos os corações, todo esse amor seria vosso…Pois bem! dai-nos esse amor e vinde vos desalterar em vossas pequenas esposas…
Almas, Senhor,precisamos de almas…sobretudo almas de apóstolos e de mártires, para que, por meio delas, inflamemos de vosso Amor a multidão dos pobres pecadores. Ó Face Adorável, saberemos obter de vós essa graça!…Esquecendo o exílio abeirados rios da Babilônia, cantaremos a vossos Ouvidos as mais doces melodias; como sois a verdadeira, a única Pátria de nossos corações, nossos cânticos não serão cantados em terra estrangeira.
Ó Face querida de Jesus!Esperando o dia eterno em que contemplaremos vossa Glória infinita, nosso único desejo é encantar vossos Olhos Divinos, escondendo também o rosto para que, neste mundo, ninguém possa nos reconhecer…vosso Olhar Velado,eis o nosso Céu,ó Jesus!… (Obra completas, p.1044).
Ó Jesus! quando éreis Viajante sobre a terra, dissestes: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso para vossas almas. Ó Poderoso Monarca dos Céus, sim, minha alma encontra repouso vendo-vos, revestido da forma e da natureza de escravo,humilhar-vos ao ponto de lavar os pés de vossos apóstolos. Lembro-me,então, das palavras que pronunciaste para ensinar-me a praticar a humildade: “Dei-vos o exemplo para que façais, também vós,o que fiz; o discípulo não é maior que o Mestre…Se compreenderdes isto e o praticardes,sereis felizes”. Senhor,compreendo essas palavras saídas de vosso Coração doce e humilde; quero praticá-las com o auxílio de vossa graça.
Quero diminuir-me humildemente e submeter minha vontade à de minhas irmãs, em nada as contradizendo e sem procurar saber se elas têm, sim ou não, direito de me dar ordens. Ninguém, ó meu Bem-Amado, tinha para convosco esse direito e, no entanto, obedecestes não só à Santa Virgem e à São José, mas também a vossos carrascos. Agora, é na Hóstia que vos vejo chegar ao cúmulo de vossos aniquilamentos. Qual não é vossa humildade, ó divino Rei da Glória, submetendo-vos a todos os vossos sacerdotes, sem fazer qualquer distinção entre os que vos amam e os que são – infelizmente! -mornos ou frios no vosso serviço…Vós desceis do céu a seu chamado; quer adiantem, quer atrasem a hora do Sto.Sacrifício, estais sempre pronto…
Ó meu Bem-Amado, sob o véu da branca Hóstia, como me pareceis doce e humilde de coração! Para ensinar-me a humildade, não podeis diminuir-vos mais; assim, quero, para corresponder ao vosso amor, desejar que minhas irmãs me ponham sempre em último lugar, e convencer-me de que ele é o meu.
Suplico-vos, meu Divino Jesus, que me envieis uma humilhação cada vez que eu tente elevar-me acima das outras.
Eu sei, ó meu Deus, que humilhais a alma orgulhosa, mas àquela que se humilha dais uma eternidade de glória. Quero, pois, colocar-me na última fileira; partilhar vossas humilhações para” ter parte convosco” no reino dos Céus.
Mas, Senhor,conheceis minha fraqueza: a cada manhã, tomo a resolução de praticar a humildade, e de noite reconheço que ainda cometi muitos pecados de orgulho; diante disso, sou tentada a desanimar, porém – eu sei- o desânimo também é orgulho. Quero, pois, ó meu Deus, apoiar sobre vosso mente minha esperança; como podeis tudo, dignai-vos fazer nascerem minha alma a virtude que desejo. Para obter essa graça de vossa infinita misericórdia, eu vos repetirei com bastante freqüência: “Ó Jesus, doce e humilde de oração,fazei meu coração semelhante ao vosso!” (Obra completas, p.1047-1049).
Bibliografia: A história de uma alma. 2. ed. Paulinas.
Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face.Obras completas. Loyola
Biografia de Santa Teresinha – Obra: Não Morro.
Entro na vida. Últimos Colóquios – Editora Paulinas – Carmelo de Cotia.1981
Não se justificar
“Quando somos incompreendidas e julgadas desfavoravelmente, por que tentar-nos defender ou explicar-nos? Deixemos tudo ruir, não digamos nada, é tão doce calar, deixar-se julgar não importa como.”(p.21).
Testemunho de vida – Pastorear as ovelhas e não fugir com medo do lobo.
No trabalho da direção das almas, se estamos às voltas com uma criatura desagradável, não desanimemos nem a abandonemos…O que Deus nos pede é não nos determos diante do cansaço da luta, nem desanimarmos, dizendo: “Pior para ela..Não há nada a fazer, senão abandoná-la!” Oh! Isto é covardia! É preciso cumprir o nosso dever até o fim.(p.22)
Testemunho de vida – Não tratar diferente o próximo pelo mal que se ouviu dele
Se alguém me conta certas dificuldades que algumas irmãs causam, esforço-me por não permitir que tal conhecimento me indisponha contra elas.(p.23)
Santos inocentes
Os Santos Inocentes não são criancinhas no céu; mostram, apenas, os indefiníveis encantos da infância. Nós os representamos ‘crianças’ pela necessidade que temos de imagens para compreendermos as coisas espirituais.(p.33).
Amizade com Nossa Senhora
Gostaria de ter uma bela morte, só para vos agradar. Foi o que pedi a Maria Santíssima. Não pedi ao bom Deus, porque não é a mesma coisa: ela sabe muito bem o que fazer de meus pequenos desejos, se deve transmiti-los ou não…Afinal, é a ela que cabe sopesar tudo, para não obrigar seu Filho a me atender, para deixá-lo fazer em tudo a sua vontade.(p.40).
Doar a vida
Não sei se irei ao purgatório; não me preocupo com isto. Mas se for, não lamentarei o não ter feito nada para evitá-lo. Jamais me arrependerei de trabalhar unicamente para salvar as almas.(p.41).
Testemunho de Vida – Em tudo Via a Bondade de Deus
Descendo os degraus, ela viu, à direita, debaixo de uma árvore, uma galinha branca que escondia todos os seus pintinhos sob suas asas. Alguns só mostravam a sua cabecinha. Ela deteve-se, pensativa, a considerá-los. Após um momento, disse-lhe que era hora de entrarmos. Seus olhos estavam marejados de lágrimas. “Mas vós chorais!”, disse-lhe. Então, ela colocou sua mão sobre os olhos, chorando ainda mais, e respondeu-me: Não vos posso dizer o porquê agora; estou muito emocionada… à tarde, em sua cela, ela disse-me com uma expressão celeste: Chorei, pensando que o bom Deus usara daquela comparação para mostrar-nos a sua ternura. Durante toda a minha vida, foi assim que ele me tratou! Escondeu-me inteirinha sob as suas asas!…Aos vos deixar, subi chorando a escadaria, não podia mais me conter e tinha pressa de estar só na cela. Meu coração transbordava de amor e reconhecimento.(p.45).
Criancinha
O Bom Deus quer que eu me abandone como uma criancinha despreocupada com o que irão fazer dela.(p.49).
Testemunho de vida – Ler a vida dos santos
Preciso de alimento para a minha alma; lede-me uma vida de santo.
Quereis a vida de São Francisco de Assis? Penso que vos distraireis ouvindo falar dos passarinhos.
Não, não para me distrair, mas para ver exemplos de humildade.(p.57).
Chama de amor
Desde a idade de quatorze anos, tive muitos assaltos de amor: sempre amei muito a nosso Senhor! Mas, após o meu oferecimento, foi diferente! Era uma verdadeira chama que me queimava.(p.62).
Testemunho de vida – Amar a natureza
Acabo de ver sobre o muro, um pardalzinho que, soltando de quando em vez uns gritinhos, espera pacientemente que seus pais o venham buscar e o alimentem. Penso que me assemelho a ele.(p.63).
Coração grande
Se soubésseis como o bom Deus será terno comigo! E, mesmo que ele seja um pouco severo, ainda o acharei terno…Se eu passar pelo purgatório estarei contente; farei como os três hebreus na fornalha: passearei pelas chamas cantando o cântico do amor! Oh! Como serei feliz se, por ir ao purgatório, puder libertar outras almas, sofrer em seu lugar! Assim farei o bem, libertando os cativos.(p.66).
Amor no céu
No céu não haverão olhares de indiferença, porque todos os eleitos reconhecerão deverem-se, uns aos outros, as graças que lhes mereceram a coroa.
A virtude
A virtude brilha naturalmente; quando desaparece percebemos.(p.95).
Testemunho de vida – perfeição no sofrer
Minha pequena vida é sofrer, e nada mais! Nem mesmo digo: Meu Deus, é pela Igreja; Meu Deus, é pela França…etc…Ele sabe bem o que tem de fazer; já lhe dei tudo para dar-lhe prazer. E, depois, cansar-me-ia muito dizer a todo momento: Daí isto a Pedro, aquilo a Paulo. Quando uma irmã me pede algo, recomendo-o imediatamente, e não penso nisso. Quando rezo nas intenções de meus irmãos missionários, não ofereço os meus sofrimentos; digo simplesmente: Daí a eles tudo o que desejo para mim!”(p.114).
Fazia leitura do breviário do Sagrado Coração
Ela mostrou-me, no pequeno breviário do Sagrado Coração, a palavra de nosso Senhor a santa Margarida Maria, que lhe coubera no dia da Ascensão: “A cruz é o leito de minhas esposas; é lá que eu te farei consumar as delícias de meu amor”.(p.118).
Testemunho de Vida de Santa Teresinha do Menino Jesus – falar com amor
Contei a verdade à nossa Madre, mas enquanto falava, veio-me ao pensamento uma expressão mais caridosa do que aquela que pretendia utilizar, e que por isso mesmo não seria um mal empregá-la; segui minha inspiração e o bom Deus recompensou-me com uma grande paz interior.(p.120).
Sabedoria
Sofro, apenas, por um instante. É por pensarem no passado e no futuro que as criaturas se desencorajam e se desesperam.(p.136).
Ensinamento sobre a Sagrada Família
Que bom será conhecer no céu tudo o que a Sagrada Família passou! Quando o Menino Jesus começou a crescer, talvez – vendo sua Mãe jejuar – dissesse: “Também eu quero jejuar!” E a Santíssima Virgem respondia: “-Não, meu Menino Jesus! És pequeno demais; ainda não tem resistêwncia!” – Ou, talvez, ela não ousasse impedir…
E o bom São José?!…-Oh! Como eu o amo! Ele não podia jejuar por causa de seus trabalhos. Parece-me vê-lo a aplainar e enxugar a fronte de tempos e tempos. Desperta-me piedade!…Como ele me faz ver quão simples era sua vida!…O que me faz bem quando penso na Sagrada Família, é imaginar uma vida muito simples!(p.140).
Testemunho de Vida de Santa Teresinha do Menino Jesus
Chamar pelo nome
Não se deve colocar apelidos não é religioso(p.175).
Sofrimento
Sinto algo de misterioso…Até aqui eu sofria, sobretudo, no lado direito, mas o bom Deus perguntou-me se gostaria de sofrer também por vós; respondi-lhe que sim…No mesmo instante, a dor estendeu-se ao lado esquerdo, com uma intensidade inacreditável.(p.203).
Amor a Deus
Se o bom Deus me dissesse: “Se morreres agora, terás uma grande glória; se morreres aos 80 anos, tua glória será menor, porém dar-me-ás um grande prazer. Eu não hesitaria e responder: ‘Meu Deus, quero morrer aos 80 anos, pois não busco a minha glória, mas somente o vosso prazer!”
Testemunho de vida – Caridade com o menos simpático
Pratica-se muito mais a caridade prestando obséquios a quem nos é menos simpático…Sim é preciso, portanto, não faltar caridade ao próximo.(p.216).
Testemunho de vida – Mansidão
Não sou como as pessoas que sofrem pelo passado, pelo futuro. Eu sofro só pelo momento presente, assim, não é grande coisa.(p.218).
Chuva de rosas
A 9 de julho de 1897, irmã Maria do Sagrado Coração dizia-lhe o quanto ficaríamos tristes com sua morte. Ela respondeu: “Oh!Não!Vereis; será como uma chuva de rosas…(p.224).
Testemunho de vida – Silêncio nos sofrimentos
“Sofri de frio no Carmelo a minha vida toda!” Fiquei espantadíssima ao ouvi-la falar assim, porque durante os invernos – sua atitude não revelava nada de sofrimento. Nunca, nos maiores frios, eu a vi esfregar as mãos, andar mais depressa ou dobrar-se sobre si, como fazemos naturalmente quando sentimos muito frio.” (p.226)
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